O espetáculo \”A mesa verde\” de Kurt Jooss me tocou em diversos lugares, provocando diversas reflexões, dentre elas poderia destacar a alusão à morte que é tratada na obra de uma forma tão potente e impactante. Observando o trabalho hoje, novos significados surgem, e em meio a pandemia que estamos vivendo a morte está muito presente rondando nossas vidas, é realmente algo inevitável, a questão da política também me afetou muito, onde vivemos completamente desgovernados com o aterrorizador descaso frente a mais de 600.000 mortos que tivemos neste momento tão difícil, então muitas emoções foram provocadas em meu íntimo ao observar esta obra belíssima, com uma dramaturgia corporal potente e significativa. E trouxe inquietações a respeito de como alguns temas como a morte, a guerra, o sofrimento e a desumanidade continuam tão atuais apesar do contexto ser completamente diferente.
Em Café Muller de Pina Bausch, a angústia da incomunicabilidade humana soaram mais forte, perpassando por toda a obra, o sentimento de solidão, da falta do encontro, do abraço também revelam um caráter atemporal, ao meu ver. Ambas as obras me fizeram reaprender a ver, a ter experiências de fato significativas e transformadoras. Estamos neste tempo do cansaço, do bombardeamento de informações e opiniões vazias, da falta de sentido diante das atrocidades que estamos vivendo e estas obras me sensibilizaram em outro lugar, me colocando no caminho de novos olhares e perspectivas, da abertura do inconsciente onde podemos ter outras compreensões da realidade que não o da racionalidade excessiva para reaprender neste lugar do desconhecido, reproduzindo novos sentidos. Algo me aconteceu, me atravessou e me inspirou em tempos como este para prosseguir na luta por dias melhores, ao respirar Arte e poesia.