“Van Gogh procurava o amarelo quando o sol desaparecia, é preciso procurar” (do filme Carmen de Godard, Jean-Luc Godard).
Nós artistas, precisamos pesquisar, criar as melhores condições para vivenciarmos as experiências e aumentarmos o nosso repertório do pensar e do perceber. Ir atrás, ir além, não esperar que as coisas cheguem. É preciso trabalhar a musculatura do imaginário. Ativar a nossa sensibilidade e nosso receber irrestrito — aceitar o que é estranho a nós “onde não me identifico é aí que posso expandir”; pois a busca em nos sentirmos parte dentro daquilo que já conhecemos, nos limita, nos aprisiona, nos atrofia e nos leva a depressão. Num primeiro momento, o contato com algo desconhecido pode não parecer confortável, porém se soltarmos “o controle” essa sensação se dilui e novas possibilidades são acessadas.
Depois disso devemos abandonar TODO o ser, para ser. Momento de saída do ego, onde nos tornamos passivos. Passivos, pulsantes. Como o pulmão que recebe o ar e depois solta. Esse movimento de busca e entrega nos coloca em conexão com algo grandioso, algo que nos transcende… Algo sagrado. Assim como diz a metáfora de A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen, de Eugen Herrigel: “quando se solta solta a flecha, algo faz por você”. Assim escancaramos as portas para que o invisível passe por nós e fale através de nós: o amor, a intuição, o poder de criação… Aceitar “estar” impessoal no mundo, aceitar o nada. Para isso é preciso coragem e um tanto de fé para perceber que “o nada é antes algo pleno do que vazio”.
“O caminho da vida é maravilhoso, é o caminho do abandono” (Yin e Yang, J. C. Cooper)
Mas como conseguir tal proeza com tantos ruídos dentro e fora de nós? Melhor seria se estivéssemos esperando Godot! Precisamos de silêncio!
(pausa)
Nos perdemos no meio do caminho? Criamos a nossa própria destruição? Como conseguimos espaço para nos reconectarmos com o movimento natural do universo? Na peça “Arlequino, Servidor de Dois Patrões”, vemos uma sociedade que já não funciona mais, estereótipos falidos, “papéis” criados e impostos dentro de um sistema que elege seus privilegiados, um sistema que nos aniquila, nos despotencializa. Nos torna fragmentos manipulados e abafados. Como podemos sair desse movimento e experienciar o mundo plenamente? Precisamos de uma nova consciência, voltar às nossas origens, recordar que somos poeiras de estrelas… que o nosso poder como artistas, como sociedade, como seres humanos só será significativo se estivermos conectados com o todo.
“Os que têm consciência de sua verdadeira natureza criam ao invés de destruírem, e estão cientes não apenas de serem parte de um todo, mas também de serem um todo em si mesmos” (Yin e Yang, J. C. Cooper)