Reflexão da semana 25 e 26/4

A reflexão se inicia com uma consideração á nossa origem individual pela qual cada ser humano passa a conhecer o mundo, por exemplo, quando somos expulsos do útero de nossa mãe pela iminência de nosso ser em desenvolvimento, ao dar nosso primeiro sopro de vida ao respirar, e ter a ousadia de dar o primeiro passo com pés sob o chão ao caminhar, aprender a se comunicar por meio de palavras ao falar, e consequentemente aprender que existem ideias imagéticas provenientes dessas palavras, assim gerando uma consciência, uma lógica, um raciocínio próprio, construindo através dessas impressões uma versão da realidade, um vício para pensar, até chegar num ponto em que se consegue ter autonomia para conseguir criar e consequentemente interferir na realidade em que coexiste(obviamente a partir do que se conhece, e não do desconhecido), e perplexamente, todos esses processos de aprendizagem cognitiva por instinto natural são uma libertação do amor, mas no contexto de renegação desse amor, é uma queda involuntária para a solidão, pois se renega a partir do momento em que se provenha as subsistências em cima das leis do mundo, pode se comparar com aquela metáfora do fruto da arvore do conhecimento do mito judaico-cristão de Adão e Eva

O ser humano presente…

O coletivo na sua individualidade presente…

O artista precisa estar …

O estranho também precisa presente … estar …

Ser, permanecer!

Esta ânsia de se auto estimular, ultrapassar limites para realizar alguma coisa além das suas próprias competências ou habilidades em algum tipo de jogo, proposito ou incumbência é de fato um anseio da vontade puramente efêmera. Ainda mais, quando não se há um real domínio sobre os ideais constantemente mentalizados pela humanidade de forma individual ou coletiva, nem ao menos controle dos sacrifícios que são procedentes da força interior voluntaria discorrida do desempenho, ficamos girando á deriva como miseráveis moscas em volta da merda por causa daquilo que determinamos o necessário, e com isso sofrendo as consequências de nossas ações

O designo dessa busca para uma transformação pessoal ou destino final é sempre caminhando num limbo essencialmente de aspectos opostos, como a vida e a morte. Se eu inspiro ar me alimento de vida, mas se eu expiro a vida sai de mim e vejo a morte chegar mais perto, mas se não faço nada para tomar ar, com o tempo pereço. É certo dizer que somos devoradores de vida para nos manter vivos. Nesse processo de semeação da alma através da consciência, a escolha é um pretexto para justificativa do sonho ou objetivo no qual se baseia a imagem e semelhança de nós, e a pressão advinda dessa decisão de poder escolher com fins de obter aquilo que se deseja ser ou de estar, notadamente é um choque de excesso de possibilidades e fonte de sofrimento constante. Uma insatisfação que causa perda e martírio da vocação humana, pois é um subjetivismo de opções

Estamos ainda acelerados, surdos e cegos, praticamente anestesiados de tudo que nos cerca? Nos dias de hoje, o agora, a individualidade reina engaiolando todos em seus próprios paradoxos e crenças mundanas. Seguimos atropelando, trombando e fechados para a estarmos amplos, porosos, e para encontrar uma real oportunidade de descobrir uma identidade e a serviço para o presente do aqui e agora, e darmos uma importância mais objetiva á nossa existência

A finitude do genérico nos impede de enxergar que ao dominar uma verdade por meio da logica racional temos uma ilusão de invencibilidade perante aos riscos, inatingíveis, uma superioridade soberba que não se abala por nada, uma falsa segurança de certeza projetadas nas coisas, e com isso perdemos a nossa própria verdade, a consciência de nossas fraquezas, e nos traímos em essência, pois substituímos essa vulnerabilidade natural diante do que sentimos por uma liberdade ilusória calcada em lucidez e indiferença, e por efeito adquirimos um profundo tedio e percebemos que não somos livres de nada, e que precisamos de algo para nos completar, alguém ou algo que caiba nos nossos sonhos mais íntimos
A mesquinharia de nosso consumismo oriunda dos acúmulos, e nos afunda cada vez mais num abismo de ensimesmamento, saturamos de existência e arrebatamos nosso orgulho por terra, principalmente quando nos frustramos por não fazer o que devia ser feito diante daquilo que chamamos de falha. Ao superar o erro com proficiência, há um prenuncio para um isolamento num casulo de indiferença, uma ilusão de liberdade por não ter mais a adversidade de subir os degraus das escadas por onde já se sabe o caminho.

A independência, que nos traz a capacidade vencer o obstáculo, ao mesmo tempo nos mata o amor á contrariedade, e com isso destrói a conexão com o mundo e com quem faz parte dele, aniquilando todas e quaisquer diferenças para transformar num dogma factual, uma auto alienação

A confiança que se desenvolve no próprio talento nos cega a sensibilidade, devasta nossa fé, e tudo que resta é pura auto admiração que ecoa dentro de si e que retorna para o nada como sempre foi, um nada, e tudo não passa de uma jornada incessante e desgastante cheia de esforços, simplesmente cansativo demais. Não tem nada de errado em querer melhorar nossas perspectivas diante dos problemas para encontrar uma nova verdade em si mesmo, mas se deve saber que não se trata apenas depender somente de si, não devemos nos perder em ilusões mundanas que alimentam nosso egocentrismo, proficiência não é completude, é apenas uma afirmação do ego, e entender que por algum motivo maior do que a existência estamos fazendo parte desse mundo

A amplitude pode ser negada por falta de compreensão do próprio ser, mas para alguns mesmo em seu total controle, um bloqueio pode ser encontrado devido ás experiencias passadas. De referencias fomos feitos, de referencias seremos formados

É preciso muita humildade para entender que existem alguns momentos da não ação, da espera, da imobilidade, de poder apenas admirar as coisas com os olhos que se vê, e permitir que o outro ou algo complete aquilo que se deixou inacabado, e deixar algo não dito para que o acaso complete a ideia. A ausência, o invisível, o verdadeiro vácuo simplesmente se encontra na reminiscência do silencio antes do som para que a imaginação preencha com aquilo que temos de mais precioso dentro de nossa potência, não se trata de passividade, mas de sim de disponibilidade, e de se entregar de corpo e alma e se tornar parte da obra, e assim o milagre de alegria acontece quando menos se percebe, é uma imensa responsabilidade não perder o prazer de viver nossas paixões, ainda mais quando se pode viver todas as existências além da própria por um instante e se surpreender com a vida, e quem sabe estar mais apto a praticar o bem e entender o mal que existe em nós, sem alguma pretensão de obter algo em troca

Embora todos os seres nasçam dotados de uma sensibilidade que é muito mais vasta do que o alcance que nossa visão atinge, com uma definição de amor distintas uma das outras que precisa ser contemplada com uma generosidade de não definir as percepções de certo ou errado no conteúdo em contexto cultural e estético, não é uma pieguice água com açúcar, o amor não deve se prender á consumação e sempre estar aberto ao desapego e a mudança dos tempos e de conceitos, caso contrário se eu disser que tudo não passou de um devaneio teu da noite passada? Pode se velejar pelos sete mares e descobrir que é algo que nunca passará por você e que o mar não derrama, pode se esperar um milhão de anos e ver que o céu ainda está muito longe e que o vento não se vê, e que o amor pode ser algo que os outros sentem, menos você

Entretanto, ainda há esperança para quem sonha e não viu o final, afinal: “o sonho é algo da mais alta ordem articulando memorias complexas na forma de enredos oníricos, verdadeiras simulações do ambiente e do sonhador”

SIDARTA RIBEIRO