Reflexão da semana 04 e 05/4

As leituras e reflexões acionadas pelo Nac me rementem a dois filósofos contemporâneos que tratam da união entre as polaridades buscando unidade entre os opostos. Rementendo, de certa forma,ao trabalho do ator quando encontra o personagem se fundindo num só ser.
Henri Bergson, (1859-1941) ao nos apresentar à questão da intuição nos dirige ao conceito de Duração que está relacionado ao fenômeno do tempo. Tal conceito estando relacionado ao conhecimento via intuição, no seu contato com o Eu profundo, nos dirige a uma ciência que se traduz em forma de conhecimento do todo onde nos deparamos com o encontro do material com o intuitivo-espiritual. A partir de tal reflexão podemos vivenciar um caminho que une a transcendência com a materialidade da existência, assim como a elucidação de metáforas. Inicia-se então um momento histórico-filosófico que revela uma cisão entre as polaridades. Encontramos o delinear deste pensamento nas obras “A Introdução da Metafísica” (1903), “A Intuição Filosófica” (1911) e “O Pensamento e o Movente” (1922).
Nesta mesma direção encontramos o filósofo contemporâneo Merleau-Ponty (1908-1961). As pesquisas da fenomenologia de Merleau-Ponty, em parceria com pesquisas sobre o universo da arte, encontram seu ponto de apoio na ruptura com a tradição da filosofia clássica, que separa o sujeito do objeto. A tradição filosófico-científica, iniciada com Descartes é rompida, libertando-se das dicotomias da realidade como consciência ou coisa, idéia ou fato, essência ou aparência. E será o homem e, particularmente, o corpo como fonte de conhecimento e como forma de reinterpretar o cogito cartesiano o problema central na obra de Merleau-Ponty. Em Fenomenologia da Percepção, ele vai evidenciar a necessidade de compreender como o homem é sujeito e objeto, agente e dependente simultaneamente; primeira e terceira pessoa.
Para ter uma idéia clara desse pensamento que se esboça é preciso entender a tradição cartesiana e husserliana na qual Merleau-Ponty está inserido: o mistério da união corpo-alma, que se apresenta como uma contradição, uma antinomia entre princípios, pois vai desafiar dois pontos de vista incompatíveis do ser: o lado interior ou idealista e o lado exterior ou realista. O desafio dessa nova maneira de olhar é uma resposta à decadência do racionalismo clássico, que precisa ser revisto. Faz-se necessário reconciliar perspectivas antagônicas, tais como: natureza e idéia, natureza e consciência, corpo e alma. Vamos encontrar então uma filosofia marcada pela ambigüidade, pela consideração dos paradoxos, das antinomias. Assim, ao longo de sua obra, Merleau-Ponty tem a tarefa de interrogar e reger o diferente; a duplicidade na unidade. Para Merleau-Ponty, Marcel Proust será apresentado como escritor que “mais longe foi em fixar as relações entre o visível e o invisível, na descrição de uma idéia que não é o contrário do sensível, mas que é seu dúplice e sua profundidade” (VI, 144).
Considero então que estes dois filósofos vão ilustrar as reflexões, de fundamental importância, para a consciência da dimensão do Trabalho do Ator, propostas pelo NAC neste momento inicial dos nossos encontros.